segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

C. F. Guadiana, um grande "rio" cruzado por famílias e gerações



Clube de Futebol Guadiana continua a despertar paixões nas gentes de Mértola. Mau início de temporada não esmorece a confiança dos diretores, que apontam à permanência na 1.ª Divisão Distrital e à conquista da taça.

Manuel de Melo Garrido, o homem que em 1956 publicou, em fascículos, a "História do desporto no distrito de Beja", conta que o futebol organizado em Mértola remonta a 1924 e que já nessa altura existia um "Guadiana Foot Ball Club". Tal como o atual Clube de Futebol Guadiana, fundado há 70 anos, a 1 de janeiro de 1947, a camisola era vermelha e no emblema estava a Cruz de Cristo.

Ao "Grande Rio do Sul", o clube foi buscar o nome, e às velas dos barcos do Guadiana e dos navegadores portugueses, o emblema. Em Mértola existe uma grande colónia de adeptos do Belenenses e a Cruz de Cristo levou o Guadiana a ser filial da coletividade do Restelo. Pelas suas fileiras, como jogadores e dirigentes, passaram muitas famílias e gerações. Pais, filhos, netos e bisnetos, que nos bons e nos maus momentos têm feito a história do clube. Atual chefe de gabinete do presidente da Câmara, Luís Madeira era jogador (capitão de equipa) e presidente do clube aquando da conquista do único título de campeão distrital.

A dimensão e envelhecimento do concelho dificultam a prospeção de jogadores. O exemplo é o jovem guarda-redes, João Luís Baioa, 16 anos, juvenil, que integra o plantel sénior. António Adanjo, presidente do Guadiana, lembra que "o aproveitamento dos filhos da terra sempre foi o objetivo", recordando os maus momentos vividos no início dos anos 2000, em que se "embarcou numa aventura no futsal, com muita gente de fora, que ia atirando o barco ao fundo".

Mas falar do clube da Vila Museu, como Mértola é conhecida, é falar de José Baioa, antigo futebolista e o grande entusiasta do regresso da coletividade às competições associativas nos pós-25 de Abril. Em 1945, antes da fundação, foram os "candidatos" a jogadores que construíram um campo de jogo, sem balneários, só com balizas em madeira, e que batizaram como Estádio do Calvário. Até 1973, jogava-se uma partida ou duas por ano. Jogadores e árbitros vestiam-se no velho matadouro e andavam, a pé, cerca de dois quilómetros para chegar ao campo.

Em 2003, a pedreira no Topo Norte deu lugar a uma bancada coberta, balneários e instalações sociais, o campo recebeu um relvado sintético e iluminação elétrica. Dez anos depois, a zona envolvente foi transformada num polidesportivo e um parque de lazer, que custaram à Câmara de Mértola 1,5 milhões de euros. "O subsídio anual da Autarquia é o nosso principal suporte financeiro. Sem isso era muito difícil manter o clube", justifica António Adanjo

. O Guadiana é a principal agremiação desportiva do concelho e disputa a 1.ª Divisão da A. F. Beja. Os primeiros cinco jogos da época significaram cinco derrotas, mas a equipa recupera. "O objetivo é a permanência. Vamos bater-nos para ficar nos seis primeiros lugares. Temos tradição na Taça e queremos chegar à final", resume o presidente do clube.

"Baroti", como é conhecido Fernando Martins, 36 anos, era professor e há três criou uma empresa de caça, na vila que é a Capital Nacional da Caça. Capitão e vice-presidente, veste a camisola do Guadiana há 30 anos. "É um clube de amigos, é a outra família. Além de jeito, os jogadores que entraram têm de ter alguma ligação com a terra. É difícil ser jogador e diretor ao mesmo tempo. Incuto o respeito, dentro e fora do campo", justifica alegremente "Baroti".

Passe curto
Fundação: 01/01/1947
Local de jogos: Estádio Municipal de Mértola
Sócios: 480
Equipamento: Camisola vermelha, calção branco e meias vermelhas
Palmarés: Campeão Distrital da 2.ª Divisão da A. F. Beja, em 2010/11. Campeão Distrital e Vencedor da Taça de Futsal da A. F. Beja, em 2002/03. Vencedor da Taça da A. F. Beja, em 1985/ 86.

Passe longo
Nem só de futebol se faz a história do clube. As míticas etapas da Volta a Portugal com passagem por Mértola ajudaram ao gosto pelo ciclismo. Entre 1988 e 1992, o Guadiana teve uma equipa amadora, com cerca de uma dezena de corredores, onde António Galvão era o craque da equipa. As voltas ao concelho de Mértola e à Margem Esquerda do Guadiana foram ganhas pelos ciclistas da equipa mertolense. Agora, com o apoio da Autarquia, as partidas e chegadas de etapas da Volta ao Alentejo tem Mértola como cenário anual.

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