quinta-feira, 25 de junho de 2009

“Antigamente havia mais dinheiro no futebol”

José Manuel Rações conquistou, esta temporada, o seu quarto título distrital e a sua quinta taça da AF Beja, ao serviço do Moura AC. Foi o melhor marcador da equipa, com 16 golos e, aos 39 anos de idade, dos quais mais de 30 passados a jogar futebol, continua a ser pretendido pelas principais equipas da região. Neste período de defeso conversou com o "Diário do Alentejo" sobre a sua longa carreira e as mudanças que viu operarem-se no futebol nas últimas três décadas.

Texto João Matias Fotos José Ferrolho

José Manuel Pataca Rações é descendente dos gémeos Manuel e Chico Rações, que se notabilizaram nos campos de futebol do Sul defendendo as cores do FC Serpa. Nasceu, trabalha e vive em Serpa, onde a comunidade o reconhece e se casou, há sete anos, com Luísa, mãe da sua filha Catarina. Começou a jogar no Luso, aos 8 anos, treinado pelo saudoso Manuel Baião, antigo futebolista que deu o nome ao novo campo de jogos da cidade. Passou pelos três maiores clubes do concelho - FC Serpa, Piense e Aldenovense, e também pelo Desportivo de Beja, Moura AC e Ferreirense. Para além dos títulos regionais e das taças, também foi o melhor marcador do campeonato da AF Beja e já subiu diversas vezes à III Divisão Nacional. Uma vasta experiência, sempre com o nº 9 nas costas que identifica os homens da área.

Quais as principais mudanças no futebol a que assistiu nestas últimas três décadas?
Houve duas mudanças importantes: uma nos campos, outra nas arbitragens. Ambas beneficiaram o futebol, pelo menos na perspectiva do ponta-de-lança, que é a minha posição.
Explique lá porquê.
Quanto aos campos, há muitos relvados e quase desapareceram os pelados de antigamente, e isso é um benefício que se explica por si. Quanto às arbitragens, hoje protege-se mais quem joga, quem tem a bola no pé, pois já não é possível fazer-se "tudo" como dantes, onde imperava a força.

Mencionou aspectos que dizem directamente respeito ao jogo. E num âmbito mais alargado?
Também aí houve evolução. Ao nível da preparação física, por exemplo, já não se trabalha por "palpite", pois os treinadores têm cursos e sabem o que estão a fazer. Com os massagistas acontece coisa semelhante e até a formação dos dirigentes é outra. Houve uma grande evolução em todos estes aspectos que, aliás, também se deu na sociedade em geral.

Houve melhorias a todos os níveis. Isso é, de facto, visível. Mas será que já não se enganam os jogadores? Os dirigentes cumprem com as condições que vos prometem?
Bem, aí a coisa é mais complicada. De facto, muitos continuam a dizer, no princípio das épocas, que dão determinados subsídios aos jogadores e depois falham.

Aconteceu consigo?
Sim. Uma vez foi logo no primeiro mês!

Como é que se pode evitar isso?
Só com a experiência. Ela vai-nos ensinando a ver se as pessoas são credíveis, pois nota-se logo quando alguém nos está a prometer algo que o clube não tem capacidade para dar.

Já passou por dificuldades?
Sempre trabalhei em outras actividades. Nunca dependi do futebol para viver. Mas há jogadores que só fazem isso e esses passam por muitas dificuldades.

Esses problemas persistem?
Infelizmente sim. Sabe, acho que antes até havia mais dinheiro no futebol e não é só por causa da crise que hoje há menos. É que nessa altura as finanças não apertavam os clubes, era tudo sem declarações, agora muitos estão aflitos.

A região tem perdido população, facto que se reflecte em muitos sectores. Também se nota no futebol?
Também. Por um lado, há uma certa rotatividade de jogadores entre os clubes, sobretudo entre aqueles que chegam aos Nacionais. São quase sempre os mesmos que vão saltando de umas para as outras equipas que vão subindo de divisão. Por outro lado, é cada vez mais difícil encontrar jogadores jovens, não só por serem em menor número mas também porque há outras modalidades desportivas que os atraem, o que não acontecia antes.

O público também tem diminuído?
É verdade. Há menos gente nos estádios alentejanos.

D.Alentejo